2 de fevereiro de 2012

Virar o disco

Permito-me aqui, agora, nesta época e neste período, nesta estação chuvosa, reproduzir um lindo soneto que li, acidentalmente e muito impredizivelmente na janela de um ônibus, na exata véspera da minha viagem para cá, que talvez diga tudo e também muitas outras coisas que ainda nem compreendi, e que talvez nem venha a compreender, mas que na hora, no exato instante em que li, apenas fez simplesmente todo o sentido.

Vira o disco

Vira o tétrico disco e segue adiante.
E daí que a vida matou o amor,
que enegreceu o que era somente cor,
que envelheceu teu coração infante?

Segue adiante e vira o tétrico disco.
Há de ter outras cores numa esquina
próxima. A tristeza não quer ser sina
tua. E, se for, inventa um melhor risco.

O coração, se estás vivo, não morre
e, mais, pode ser outra vez criança.
Inventa com o que vier teu porre

de coisa boa. Dança a nova dança
e diz à tristeza que a vida corre
sem o disco ruim da desesperança.

(Cezar Dias)


Naturalmente preciso, inevitavelmente, coroar estas terríveis e tão sensatas e tão lúcidas palavras, com uma música logicamente necessária para este momento em que compreendo, embora talvez nunca venha a explicar, todo o mais profundo significado.

Florence and the Machine - Shake it out



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